17.7.07

Gatinhos e novelos de lã fofinhos

O antigamente é que era.

Sabem do que sinto saudades? De ver miudos a brincar na rua como eu brincava. Os meus melhores amigos eram os cães vadios (Leão, Murphy, Satanás e Bóbó) e os paralelos eram vistos como brinquedos.

Agora já não vejo miúdos como eu... Não vou começar com a conversa do costume das consolas e dos computadores e das internets... Na minha altura já havia computadores e consolas, no entanto, era bem mais divertido estar a apedrejar animais e pessoas. O cheiro a rua! O estar cheio de tinta e todo ranhoso e não me importar com isso.. Nem sabia o que eram marcas de roupa e não queria saber...
Agora são todos uns mariquinhas! Nós somos da geração em que se reprovava 3 e 4 vezes na primeira classe!!

Se a minha geração com 10 anos encontrasse a geração de agora eles não teriam hipótese. Agora é tudo fácil e há protecções pra tudo. E a selecção natural? Onde é que está espaço para isso?
Se um miudo é burro o suficiente para beber um litro de lixivia é porque secalhar não merece sobreviver muito mais tempo... Agora são tão burros que nem a garrafa conseguem abrir.

Eu cheguei aos 15 anos com facadas, machadadas, cabeça partida mais do que 5 vezes, queimaduras quimicas, fracturas expostas, tiros de pressão de ar, pregos espetados, perfuração parcial de uma vista e 1 intoxicação devido a produtos desconhecidos... Devia por isto no curriculo...

Das tardes que melhor tenho memória são aquelas em que com os meus 12 anos pegava na pressão de ar e andava à caça. Acabávamos sempre por nos chatear e alguém ia pra casa após ser baleado... A maior parte das vezes era eu... obrigado irmão...

Queria ver se agora algum miudo se atrevia a andar com uma espingarda na mão em plena luz do dia à procura de alvos... Havia logo problemas... na altura não...
Eu tinha 8 anos e passava as tardes a fumar e a brincar com o meu amigo Idálio e o seu machado... Atirar um machado contra uma árvore era como as playstations de agora... Até chegar alguém mais velho e nos dar uma coça ou ameaçar de morte... obrigado irmão...

O Idálio... O Idálio fazia parte do meu grupo de amigos na rua onde morava antes de ir para a Quinta do Galo. Esse rapaz tinha um atraso mental. No entanto para nós crianças, era um como os outros. Apesar de ser completamente maluco e mal saber falar não víamos nele diferença nenhuma e muitas vezes acabava por ser a nossa consciência. Lembro me tão bem de certos conselhos que ele nos deu:

" Se atirarmos esse caixote do lixo a arder podemos magoar alguém... "

" Isso é capaz de ser venenoso... é melhor beber pouco.... "

" Se a professora te vê a ponta e mola tira-ta..."

Isto quer dizer uma coisa. Os putos são uma cambada de atrasados mentais. Eramos malucos! Eu cheguei a caír de um segundo andar e que me fez isso? NADA! Fiquei sem falar uma série de dias mas só me fez mais forte e inteligente! Não me volto a atirar assim para um corrimão...
AGORA! Os de agora são frouxos. Na altura as pessoas não nos protegiam nem gostavam de nós. Levávamos porrada dos mais velhos e não nos queixávamos. E verdade que muitos desses meus amigos não chegaram à minha idade mas o que interessa é que houve uma filtragem dos mais fracos.
Normalizados. Tá tudo normalizado agora... Cheios de tempos ocupados e horários e telemóveis e musicas e muitas coisas feitas especificamente para eles. Na minha altura não! Tinhamos 2 canais de televisão com meia hora dedicada às crianças... O resto do tempo viamos Porn roubado aos nossos pais e filmes violentos. Jean Claude Van Damme era o MAIOR e ouviamos Sepultura e Megadeth! Na nossa cabeça éramos uns duros! Eramos violentos, brutos e impulsivos mas acima de tudo riamo-nos e experimentavamos tudo que havia para experimentar.

O meu primeiro cigarro foi no dia da minha profissão de fé! O meu irmão achava que havia motivo para comemorar.
Eu adorei a minha juventude. Acredito que agora os miudos são bem mais inteligentes do que nós éramos na altura, mas, ser criança não é ser-se inteligente.
Experimentar!

Todos nós sabemos qual é o sabor da relva porque houve algum ponto da nossa vida em que a metemos na boca.
Tenho alguma pena do mundo estar a ficar demasiado fácil. Nós não tinhamos dinheiro, não tinhamos relógio, não tinhamos nada, não havia medo e as regras eram bem mais simples.

Tenho saudades de ter as pernas todas negras e da febre da carraça.


Ninguém se atreveria a raptar um miudo da minha geração, éramos feios porcos e filhas da puta.

2 comentários:

Rodrigo disse...

Óptima crónica! Revejo com nostalgia esses tempos ;)

Anónimo disse...

esqueceste-te de referir a masturbação em grupo feita ao murphy.